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Entre 2013 e 2022, cerca de 19,9 mil homens tiveram o diagnóstico de câncer de pênis; 5,6 mil tiveram que ter o órgão amputado

20 de fevereiro de 2024

Um levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), com base em estatísticas do Ministério da Saúde, mostra que o número de casos de homens que precisam amputar o pênis têm crescido no Brasil.

Entre 2013 e 2022, cerca de 19,9 mil homens tiveram o diagnóstico de câncer de pênis, sendo que, desse total, 5,6 mil tiveram que ter o órgão amputado pela gravidade da doença. Uma média de pouco mais de dez amputações por semana.

Segundo a SBU, quase todos os casos de amputações de pênis que são registrados no país são por conta de câncer, sendo raro casos de amputações por outras causas, como acidentes.

Desde 2008, o número de amputações de pênis por câncer tem crescido no Brasil.

Foram 411 naquele ano, e houve 573 de janeiro a novembro do ano passado, quase 40% a mais.

‘Infelizmente, por vergonha ou falta de acesso aos serviços de saúde, é muito comum o homem recorrer a tratamentos indicados por conhecidos ou aquelas ‘pomadinhas’ do balconista da farmácia. Isso atrasa o diagnóstico precoce e prejudica o resultado do tratamento’, afirma o médico da seção de Urologia do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Diogo Abreu.

A demora no diagnóstico aumenta as chances de ser necessário amputar o pênis, porque o passar do tempo sem o tratamento adequado aumenta a gravidade do quadro.

Isso também eleva as chances de morte pela doença – que é, em média, de 0,29 casos para cada 100.000 habitantes

No mundo, o Brasil é o terceiro país onde mais homens morrem de câncer de pênis.

Para se ter uma ideia, o levantamento global de mortes pela doença mais recente da SBU, feito em 2020, mostra o Brasil (539 mortes) atrás apenas de Índia (4.760 mortes) e China (1.565 mortes).

Questionado sobre a alta incidência de câncer de pênis, em relação a outros países do mundo, o Ministério da Saúde disse que trabalha com campanhas de conscientização sobre a doença.

A pasta também afirmou que a atual gestão retomou investimentos em políticas de saúde e de cuidado aos pacientes com câncer por meio do Plano de Expansão da Radioterapia.

“Na primeira etapa, foram previstas 92 soluções de radioterapia – que compreendem além da obra, os aceleradores lineares – com um investimento de R$ 575 milhões”, disse o ministério.

“A segunda etapa, prevista no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), conta com um investimento total de R$ 605 milhões, sendo R$ 205 milhões para conclusão de obras da primeira fase e R$ 400 milhões para a viabilização de 40 novas soluções de radioterapia.”

A pasta ressaltou ainda que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente tratamento integral aos pacientes com câncer.

Como se prevenir

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil ressaltam que diferente, de outros tipos de câncer, o de pênis é um dos que mais podem ser prevenidos.

Isso porque a doença tem relação direta com a pobreza e com a ausência de boas condições socioeconômicas.

No Brasil, estudos mostram que as regiões Norte e Nordeste, onde os índices de pobreza são mais altos, concentram a maior incidência da doença, enquanto o Sul, mais rico, tem índices quase semelhantes aos de países desenvolvidos, com poucos casos.

“Infelizmente, o Brasil ainda é um país com uma enorme deficiência em educação de qualidade, e isso cria uma grande dificuldade de acesso à informação, incluindo os hábitos de higiene”, apontou Maurício Cordeiro, coordenador do Departamento de Uro-oncologia da SBU.

“A higiene correta ajuda a evitar o câncer de pênis, e o diagnóstico precoce da doença, que é essencial para o tratamento sem a necessidade de procedimentos mais radicais, como a amputação”, completou.

Como exemplo, Marcus Vinicius Baptista Queiroz, professor de Urologia na Universidade Federal do Pará (UFPA) cita uma pesquisa feita por quatro universidades e centros de pesquisa do Brasil, publicada em 2018.

O estudo apontou o Maranhão – Estado mais pobre do Brasil – como lugar que concentra a maior quantidade proporcional de tumores de pênis no mundo: cerca 6,1 casos a cada 100 mil habitantes.

“Por isso a importância do homem ter acesso à orientação e à correção de fatores que podem levar a doença, como a fimose não tratada”, diz Queiroz.

A fimose caracteriza-se pelo excesso de pele que recobre o pênis fazendo com que a cabeça, também conhecida como glande, não seja exposta.

É uma condição mais comum quando ainda se é bebê, mas pode se desenvolver também na fase adulta, provocada por um quadro de infecção ou traumatismo no local.

Em regra, homens que possuem fimose apresentam maior dificuldade de realizar a higiene do pênis por conta do prepúcio – excesso de pele.

Essa dificuldade de limpeza do pênis, visto que o órgão fica mais úmido e quente, favorece o surgimento de fungos que a longo prazo aumentam as chances de surgimento de câncer de pênis.

Sinais de atenção e tratamento

No Brasil, o câncer de pênis acomete principalmente, homens acima dos 50 anos.

“Qualquer ferimento no pênis que não cicatriza precisa ser avaliado por profissional de saúde e, de preferência, urologista”, recomenda Diogo Abreu.

Entre os sinais de alerta, o médico do Inca cita:

  • Alterações na cor do pênis;
  • Espessamento da pele;
  • Nódulos ou úlceras que não cicatrizam;
  • Feridas com mau odor ou secreções.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que algumas atitudes simples podem ajudar na prevenção da doença.

A lavagem diária do pênis, com água e sabonete expondo a glande completamente, no caso de homens não circuncisados e, sempre, após o contato sexual ajudam a diminuir as chances de ter a doença, diz Abreu.

“Além disso, é importante parar de fumar, utilizar sempre o preservativo em qualquer tipo de contato sexual para prevenir o HPV e as outras infecções sexualmente transmissíveis”, ressalta o médico.

Maurício Cordeiro, coordenador do Departamento de Uro-oncologia da SBU, também destaca a importância da vacinação contra o HPV (disponível no SUS para a população de 9 a 14 anos e imunossuprimidos até os 45 anos) como uma importante ferramenta de prevenção da doença.

“Atualmente, temos dois tipos de vacinas contra o HPV: a quadrilavente (HPV4), que é a disponibilizada pelo SUS e que cobre a maior parte dos tipos oncogênicos, os que predispõem ao câncer, e a nonavalente (HPV9), que dá cobertura para mais subtipos, já disponível na rede privada”.

“Ambas são compostas por partículas do vírus preparadas pela técnica de DNA recombinante, que cria uma das proteínas que compõem o capsídeo do HPV. Essas partículas são capazes de induzir a formação de anticorpos neutralizantes em títulos altos, que são suficientes para proteger quem recebe a vacina”, explicou Cordeiro.

Uma vez diagnosticado o câncer de pênis, o tratamento consiste na remoção da lesão ou a retirada total do órgão, assim como a remoção de gânglios (linfonodos) da pelve, virilha ou de dentro do abdômen, de acordo com o Ministério da Saúde.

Também podem ser recomendadas radioterapia e quimioterapia para reduzir o tumor ou em casos que não são considerados cirúrgicos.

Quando diagnosticado em estágio inicial, o câncer de pênis tem alta taxa de cura, ressaltou a pasta.

No entanto, segundo o Ministério da Saúde, mais da metade dos pacientes demora até um ano após as primeiras lesões para buscar ajuda médica, o que pode provocar complicações da doença, permitindo que ela se espalhe para outras partes do corpo.

Com informações do G1