Estacionei na garagem mais distante, a porta do elevador no 2º andar abriu e não senti mais o cheiro habitual, nem ouvi o som da sala de espera… estava tudo tão diferente… Antes, a mantinha limpa e organizada para acolher.

Hoje, fui fazer faxina porque preciso zelar pela minha segunda casa. Passou um filme na minha cabeça que renderia muitos textos. Mas, o mais presente foi o quanto sonhei em ser Psicóloga Clínica. Era a minha única certeza embora tenha desejado e vivenciado a psicologia em outras áreas, com elas, muitos aprendizados e gratidão.

Nos três últimos semestres da faculdade, fiz estágio em clínica na abordagem que escolhi. Mesmo assim, só me entreguei para prática clínica após a primeira especialização. Investi em cursos e supervisões muito mais do que ganhava. Sabia o que queria e, por isso, não busquei atalhos, enfrentei o caminho que acreditava ser o melhor para entregar o meu melhor. Fui contratada por uma clínica, tive uma gestação de alto risco e precisei parar.

Voltei alugando uma sala dentro de uma clínica e lá fiquei por muitos anos. O sonho de ser Psicóloga Clínica já havia se consolidado e abriu espaço para ter um cantinho só meu, com a minha cara, com a minha energia, minhas regras e em tempo integral. Senti um orgulho tão grande de mim. Assumir sozinha um consultório e não ter rede direta de encaminhamentos é um grande desafio. Se preciso parar, tudo pára. Este espaço é conduzido por mim.

Ao final da faxina, me presenteei com um chococino caramel, espalhei a essência e olhei cada cantinho antes de fechar a porta. Na garagem distante, fui recebida com um lindo pôr do sol que validou que se distanciar também pode ser contemplativo. Creio que isso vai passar e independente de qualquer coisa, tenho certeza de que alcancei muito além do que um dia sonhei pra mim. O céu ainda é azul.

Contato: @psicologa.marianamattos